Eu já estava conformada com a indução. Dr. Mannon e a médica de alto risco do Perinatal Diagnostic Center queriam a indução desde a semana 37, quando o peso da Brooke no ultra-som deu 2.5 kg considerado baixo para a idade gestacional. O Márcio nunca se conformava com os argumentos: "Mas com que população eles estão comparando o peso da Brooke? Americana? Eles são maiores mesmos." Ele consultou na internet que essas medições de ultra som tem uma alta probabilidade de erro e essa era a única variável que os médicos não estavam satisfeitos.
Ela passava em todos os Fetal Non-Stress Tests (NST) que depois da semana 38 passaram a ser 2x na semana, o volume do líquido passou a aumentar (fiz um regime de engorda depois da semana 37 com direito a muito brigadeiro e sorvete
Häagen-Dazs® de doce de leite. Foi a única parte boa dessa confusão) e ela sempre mexia muito todos os dias.
Na semana 38 voltamos lá para discutir com ela a questão. Disse que não estávamos confortáveis com a idéia da indução naquele ponto. Perguntamos quais eram os riscos que estávamos correndo, o que podia acontecer, se era uma emergência, etc... Ela disse que por a Brooke ter pouco peso ela poderia não aguentar as contrações naturais e o parto acabar em uma cesárea por ela poder ficar cada vez mais fraquinha a cada semana. Aí eu pensei: Uai, mas se ela não aguentar as contrações naturais, como ela vai aguentar as contrações do Pitocin que são muito piores?" Dr. Mannon então sugeriu que eu fizesse um exame no outro dia para medir o fluxo sanguíneo indo pro cérebro da Brooke. Se os resultados não fossem normais, indução no mesmo dia, caso contrário ela "could wait a few more days.". No outro dia resultados normais e recebi o recado que a indução estava marcada para a próxima terça-feira às 39 semanas. Fiquei bem chateada: "Como assim a indução marcada? Os resultados não estão normais? Nós nem conversamos!". Eu e o Márcio imaginamos que a consulta da terça ia ser um "clash". Já estávamos na semana 39, porque não dar mais alguns dias de tentativa para o parto natural?
Imaginamos até que ela ia nos mandar procurar outro médico então. Bem, na terça foi uma surpresa, ela disse que tudo bem esperar o marco das 40 semanas, mas que não recomendava passar muito disso, porque depois desse ponto a placenta começa a deteriorar e há casos de morte etc.... Apesar de não concordarmos com esses argumentos 100% (em vários livros é mencionado que mães de primeira viagem geralmente passam da data prevista) nos resignamos com a indução depois das 40 semanas. Seria hoje, 7 de outubro. Primeiro eu iria para o hospital tomar um remédio para afinar o colo do útero (o meu estava apenas 50% "effaced") e ia dormir lá. No outro dia eles iriam me injetar Pitocin na veia para iniciar as contrações e dilatar o útero (o meu ainda estava completamente fechado). O Márcio estava bem desapontado pois achava que as coisas iam sair completamente do controle: eu ia sofrer demais com o Pitocin, pedir uma epidural que ia me deixar anestesiada da cintura para baixo, consequentemente ia ter dificuldade para empurrar a Brooke pois não estaria sentindo nada e tudo ia acabar numa cesárea de emergência. Eu estava conformada, pois a Brooke não dava sinal nenhum que queria nascer.
Bem, na sexta-feira enquanto dormia (3am +-), notei que estava sentindo umas dorzinhas mais ou menos de 1 em 1h que pareciam uma cólica. Pensei: "Será? Já pensou? Ah, deve ser alarme falso." Mas a cada dorzinha eu abria um sorriso de esperança. Tinha momentos que achava que estava imaginando, que era tudo psicológico. Mas cada vez que vinha a dorzinha eu dizia para mim mesma: "Tá vendo, isso não é imaginação não."
De manhã fui com a mamãe pro hospital para mais um NST, o último. Durante o NST, as enfermeiras viram que tive 3 contrações bem leves e que o batimento cardíaco da Brooke em uma delas havia abaixado. Ligaram para a médica depois do teste e a ordem foi me enviarem pro Labor & Delivery para ser monitorada e depois ter o bebê. Uma das enfermeiras me consolou: "Olha, você já está em early labor, não há dúvidas disso. Então se te derem Pitocin, vai ser só um pouquinho." Perguntei se podia voltar para casa para pegar minhas coisas. Não. Perguntei se podia esperar o Márcio chegar no hospital antes de subir pro L&D. Não. Liguei pro Márcio e ele saiu do trabalho em direção ao hospital. Na monitoração no L&D eu tive mais contrações leves e o coraçãozinho da Brooke estava super bem. Na verdade elas mesmas falaram que é absolutamente normal os batimentos do bebê diminuirem durante as contrações, mas como a Brooke é considerada "petite" elas tinham que ser "ultra-conservative". A enfermeira mencionou a indução e novamente eu disse que queria esperar até o prazo de 40 semanas até porque já estava em "early labor". Ela me examinou e verificou que estava já com 1.5 cm de dilatação e com o colo do útero 90% apagado ou "effaced". Disse que ia conversar com a Dr. Mannon e me falar. Fui autorizada a voltar para casa com o compromisso de voltar sábado de manhã para um NST.
Bom aqui vale um parênteses sobre as fases do trabalho de parto (
http://www.babycenter.com/0_the-stages-of-labor_177.bc?page=1)
Primeiro estágio
1) Early labor: Contrações leves, como uma cólica branda sem regularidade. Dura cerca de 6 a 12 h e geralmente a mãe fica bastante entusiasmada nessa fase com aquela cara e atitude de: "É hoje!". Dilatação de 1-3 cm
2) Active labor: Contrações mais pesadas, o sorriso sai do rosto e a postura é de seriedade durante as contrações. Dura cerca de 4 à 8 h. Dilatação de 4-7 cm.
3) Transition: Contrações pesadas com a mãe duvidando de sua habilidade de suportar todo o processo. Pode durar até 3h. Dilatação de 8 à 10 cm.
Segundo estágio: Pushing (empurrar o bebê): contrações menos rigorosas que na fase de transition fazendo a mãe ter vontade de empurrar o bebê. Pode durar até 3 h.
Terceiro estágio: Entrega da placenta: contrações mais leves empurrando a placenta para fora. Em média 30 min.
Bem, voltando ao meu caso... Ao sair do hospital (12:00pm mais ou menos), o Márcio voltou pro trabalho e eu dirigi para casa com a mamãe (40 min de distância) com a mamãe anotando quando cada contração começava. Notei que a intensidade estava aumentando. Não me dei conta na hora, mas naquele momento estava entrando em "active labor". Os últimos minutos no carro foram difíceis durante as contrações. Decidi que ia chegar em casa, botar a lasanha no forno e ir tomar banho correndo porque parecia que as coisas iam acontecer hoje ou no máximo no outro dia. No banho a intensidade das contrações iam aumentando. Durante as contrações a dor era bem ruim mas elas duravam 1 min mais ou menos e depois só vinha outra uns 8-10 minutos depois. Liguei pro Márcio e pedi para ele correr para casa. Não aguentei comer lasanha não. Fiz força para comer uns biscoitinhos entre as contrações e tomar bastante água, como aprendi no curso. Ia dando instruções para mamãe ir colocando as últimas coisas na minha mala. Mamãe também ligou lá para casa e para casa do Márcio avisando que Brooke provavelmente ia nascer no sábado. Maria Luiza, minha sogra apostou que ela nasceria no mesmo dia.
Márcio chegou em casa (umas 3h), colocou as coisas no carro, levou o Duke para dar uma voltinha e depois tomou a frente como meu "doulo". Quando ele voltou do passeio com o Duke eu estava enfrentando cada contração agaixada no chão. Disse para ele que achava que estava na hora de ir pro hospital. Ele disse que não, que íamos marcar o tempo entre as contracões e como é ensinado no curso (ele não teve paciência de atender ao curso mas acho que leu tudo pela internet. Sempre a internet... O jeito "Márcio" de fazer as coisas) íamos para o hospital quando as contrações estivessem vindo mais ou menos de 5 em 5 minutos e acontecendo desse jeito por pelo menos 1 h. A essa altura durante as contrações, comecei a perder a capacidade de ser criativa e me lembrar dos ensinamentos do curso. Mas o Márcio se lembrou (daí a importância de uma pessoa de apoio como "doula/doulo"). Ele sugeriu que fosse para a banheira. Ajudou bastante e tenho a impressão que fiquei umas duas horas lá.
Quando as contrações já estavam de 4 em 4 minutos, perto das 18h o Márcio ligou para Dr. Mannon e combinou-se que iríamos pro hospital. Quando sai da banheira notei que as coisas tinham piorado. Doía muito entre as contrações e sentia uma pressão enorme da Brooke que já estava bem baixa. Um misto de sensações que davam muito medo. Tive medo dos 40 min dentro do carro até o hospital no horário de pico de trânsito. Comecei a chorar. Não sabia, mas estava entrando na fase "Transition" dentro do carro.
A viagem de carro foi difícilima. A cada contração agarrava o braço do Márcio e apertada a mão da mamãe. Doía muito mesmo e elas estavam próximas umas das outras, não tinha muito tempo para descanso. Cheguei na porta do hospital (umas 19h) sem condições de falar ou andar e cheguei no L&D numa cadeira de rodas. A essa altura já não me importava com estranhos na minha frente e chorava. Via todos na entrada do hospital olhando para mim assustados. No L&D me correram para um quarto, a enfermeira me examinou e constatou que estava com 7 cm de dilatação. As dores aumentaram e quase não tinha intervalo entre elas. Era como se fossem contínuas. Comecei a gritar. Eu sabia que gritar era tudo que não podia fazer porque a adrenalina iria bloquear a atuação dos outros hormônios como a endorfina e só iria sentir mais dor. Mas não deu mesmo. Na minha fase de transition, pelo menos para mim, exercícios de respiração e concentração não iam resolver de nada (nas outras fases, entretanto, ajudam muito). Gritar foi minha forma de enfrentar as contrações. Eu não conseguia ficar parada. Aqui vale um parênteses. Eu tinha dito pro Márcio que durante a fase de transition eu iria duvidar da minha capacidade de suportar e que era para ele não me deixar desistir.
Pois é, dito e feito. Eu comecei a gritar que não ia suportar. Tremia demais e ouvi a Dr. Mannon falar que a tremedeira era normal, eram meus hormônios que estavam a todo vapor. Ele e a mamãe ficavam me dizendo que eu ia aguentar sim, já tava quase no fim, faltava, só 3 cm. Continuei gritando entre as contrações. Dr. Mannon chegou e ficou orientando o Márcio a me manter de pé para a Brooke descer me deixando apoiar no corpo dele. Depois sentar num banco giratório e me apoiar de bruços na cama. Eu me sentia completamente exausta e duvidando se ia suportar todo o processo. Queria tanto uns 5 minutos para deitar e descansar. Mas na minha cabeça ainda faltava tanto... Cada minuto tão difícil. Mamãe ficava também me consolando, dizendo que eu estava conseguindo o que queria (parto natural) , que não era o Pitocin, etc... Isso ajudou bastante. Eles me deram continuamente fluidos na veia. Na verdade eu não via mais nada, não escutava, não pensava, não tinha mais condições de tomar decisões. Dr. Mannon também rompeu a minha bolsa e colocou um monitor interno na cabecinha da Brooke. Ela disse que ele tinha mais precisão para verificar os batimentos dela durante as contrações.
Mas Dr. Mannon me examinou e disse que estava com 8 cm de dilatação. Aí desesperei de vez. Tinha sofrido aquilo tudo por 1 cm? Ainda faltavam 2? Ai gritei pro Márcio que não aguentava mais e falei com a Dr. Mannon que queria a epidural. Márcio perguntava: "Você tem certeza? Tá quase acabando." Eu gritei que não aguentava mais, não aguentava mesmo. Dr. Mannon saiu para contactar o anestesiologista. Quando ela voltou uns minutos depois eu tinha enfrentado mais umas 3 contrações. Ela me examinou de novo e já estava com 9 cm. Aí o Márcio olhou para mim e tornou a perguntar se tinha certeza. Eu então disse para Dr. Mannon que ia esperar mais um pouco. O fato de ter dilatado de 8 para 9 em apenas alguns minutos levantou meu espírito.
Aí comecei a sentir umas contrações que me faziam ter vontade de fazer força; elas eram diferentes. Quando vi, Dr. Mannon tava falando que "she is ready to push" e me posicionando e me instruindo a empurrar a Brooke durante as contrações e fazer força prendendo a respiração. Eram umas 3 puxadas por contração (menos pesadas sim). Eu tava de olhos fechados e só chorava entre as contrações. Não chorava de dor, chorava por chorar, acho que por estar assustada com tanta coisa nova e tão intensa. De repente comecei a ouvir a mamãe gritar que estava quase acabando, que a cabecinha dela tava aparecendo. A enfermeira e o Márcio dizendo que tava acabando e a Dr. Mannon falando que em alguns minutos eu ia estar com a Brooke nos braços. Pediu mais uma empurrada caprichada. Aí comecei a ouvir a mamãe gritar: "Que bonitinha Daniela!" Dr. Mannon pediu para eu parar de empurrar um minuto (Eu não sabia, mas a cabecinha da Brooke já estava para fora e a Dr. Mannon estava limpando seu narizinho e boca de fluidos que ela tinha engolido durante sua caminhada para fora). A mamãe só gritava "Que bonitinha!". Dr. Mannon pediu mais um empurrão e de repente disse: "Daniela, open your eyes, Daniela open your eyes.". Eu abri e vi ela segurando a Brooke e me entregando nos braços.